segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aldo Leopold e a Ética da Terra

Aldo Leopold nasceu em 1887 e faleceu em 1948. A sua carreira, desde cedo, esteve ligada à gestão das florestas e ao conservacionismo. Tornou-se professor na Universidade de Wisconsin em 1933, onde regia a disciplina de gestão dos recursos cinegéticos integrada no departamento de Economia Agrícola. Os quinze anos de docência, e o aprofundamento dos temas do conservacionismo, conduziram-no à redacção da sua obra “Sand County Almanac” publicada um ano depois da sua morte.

Esta obra virá a ser considerada, juntamente com “Silent Spring” de Rachel Carson, um marco fundamental da literatura ambientalista do século XX, fundando um programa ecocêntrico de ética : a ética da terra.

A ética da terra é, justamente, o título da última secção da referida obra, que numas escassas 20 páginas desenvolve uma revolucionária maneira de entender o Homem, a Natureza, e a Ética.

Em primeiro lugar anuncia uma transição exigida por um processo evolucionário que é tanto filogenético quanto ético:

“uma ética da terra altera a função do Homo Sapiens, tornando-o de conquistador da comunidade da terra em membro pleno dela. Implica respeito pelos outros membros seus companheiros (fellow-members) e também respeito pela comunidade enquanto tal.”

Em segundo lugar, mostra o ser do mundo, incluindo aí o ser do homem: comunidade, simbiose, parentesco.

“A ética da terra, amplia simplesmente as fronteiras da comunidade para dentro delas incluir os solos, as águas, as plantas , os animais ou colectivamente a terra.”

Em terceiro lugar, evidencia a dinâmica funcional desse ser: inter-relação, diferenciação, conexão,

“toda a ética, até ao presente, repousa numa simples premissa – a de que o indivíduo é um membro de uma comunidade de partes interdependentes".

Em quarto lugar, enfatiza a sua dimensão estrutural: o amor (ou a bio-empatia) manifestado nos laços que ligam tudo a todos e todos a tudo.

“Quando compreendemos que a terra é uma comunidade à qual pertencemos, nós começamos a usá-la com amor e respeito”.

Daí que o salto qualitativo para a ampliação do círculo de consideração moral, a transição ética do homem no sentido da cidadania planetária, requeira, como condição necessária, segundo Leopold, uma literacia ecológica, capaz de esclarecer sobre o ser que somos, afins com tudo o que nos rodeia.

A “bondade” (i.e., o Bem) decorre da assunção dessa natural condição humana, da compreensão da rede funcional e intensamente inter-conectada que caracteriza a vida, da expansão dos sentimentos positivos a todos os nossos fellow-members da odisseia evolutiva terrestre. Por isso,

“Algo é bom quando preserva o equilíbrio, a integridade, a beleza da comunidade biótica, é mau quando não o faz.”

Leopold, A., 1949, A Sand County Almanac, London/ Oxford/ N. York: Oxford University Press (ed. portuguesa: 2008, Pensar Como uma Montanha, trad. Ed. Sempre-em-Pé, Águas Santas Ed. Sempre-em- Pé).